A Espécie

Apresentação
O boto-de-Lahille (Tursiops truncatus gephyreus ou Tursiops gephyreus), conhecido também por boto, boto-da-tainha ou boto-pescador, é um golfinho da família Delphinidae, que ocorre exclusivamente em águas rasas na costa atlântica da América do Sul (entre Brasil, Uruguai e Argentina).
Seu nome popular faz referência ao naturalista que descreveu a espécie pela primeira vez, em 1908, na Argentina. São golfinhos de médio porte, podendo medir até 4 metros de comprimento e pesar até 400 kg. Possui cabeça arredondada, maxila levemente mais curta do que a mandíbula, rostro curto e melão bem demarcado. Sua coloração é marcada por um gradiente de tons de cinza, escuro no dorso que vai clareando em direção ao ventre. A nadadeira dorsal é triangular e de base larga, onde geralmente é possível visualizar marca naturais de longa-duração que são utilizadas para diferenciar os indivíduos. Seu período reprodutivo ocorre entre a primavera e o verão.
Os botos-de-Lahille podem viver até aproximadamente 50 anos, com as fêmeas atingindo idades mais avançada do que os machos. Vivem em sociedades complexas e são conhecidos comportamentos culturais específicos (como a pesca cooperativa).

Distribuição
O boto-de-Lahille é endêmico das águas costeiras do Oceano Atlântico Sul Ocidental, distribuindo-se entre o sul do Brasil, Uruguai e Argentina, nas latitudes entre 25°S e 46°S.
Habita águas marinhas rasas, até 30 metros de profundidade, próximas à zona de arrebentação, geralmente até 3 km da costa, e se associa a corpos de água costeiros como lagunas, baías e estuários, onde forma populações residentes ao longo de todo ano.
Embora os botos-de-Lahille tendam a apresentar fidelidade de longo prazo e entre gerações às áreas onde nascem, os dados do Projeto Gephyreus tem revelado movimentos de indivíduos entre algumas Unidades de Manejo, podendo variar entre dezenas a centenas de quilômetros em poucos dias.
No Projeto Gephyreus, monitoramos 10 áreas de estudo: no Brasil, as áreas costeiras de Itajaí e Florianópolis (Baía Norte), o estuário de Laguna, a foz dos rios Araranguá, Mampituba e Tramandaí e áreas estuarinas e costeiras da Lagoa dos Patos; no Uruguai, áreas costeiras entre La Coronilla e La Paloma/Cabo Polônio; e na Argentina entre Bahía Blanca e Bahía de San Antonio.

População e Abundância
Conhecemos duas subpopulações isoladas genética e geograficamente do boto-de-Lahille. A subpopulação do sul do Brasil-Uruguai se estende do estado do Paraná até a costa do Uruguai. A subpopulação da Argentina ocorre na parte sul da província de Buenos Aires até a província de Chubut. O estuário do Rio da Prata e a costa norte da província de Buenos Aires marcam os limites geográficos entre essas populações.
Na Argentina está uma Unidade de Manejo (Bahía San Antonio), enquanto a subpopulação do sul do Brasil-Uruguai é formada por pelo menos cinco: sul da Lagoa dos Patos-Uruguai, estuário da Lagoa dos Patos, norte da Lagoa dos Patos, Laguna e Florianópolis.
Estimativas de abundância indicam um tamanho populacional de menos de 500 indivíduos ao longo de toda a distribuição da espécie. sendo a abundância total estimada para a subpopulação da Argentina abaixo de 200 indivíduos, e para a subpopulação do Sul do Brasil-Uruguai próxima de 300 indivíduos.
No Brasil, a Lagoa dos Patos abriga a maior população conhecida de botos-de-Lahille, enquanto no estuário de Laguna e na Barra do Rio Tramandaí ocorre de forma ativa e frequente a pesca cooperativa entre botos e pescadores artesanais de tarrafa.

Adote um boto-de-Lahille
Toda adoção simbólica apoia nossos esforços de conservação para os botos-de-Lahille e os habitats onde vivem.
Cada indivíduo tem uma história.
Nosso base de dados conta com mais de 350 indivíduos catalogados. Selecionamos 4 botos icônicos para adoção. Você pode presentear uma pessoa que ame estes incríveis animais.
Escolha uma história para começar a fazer a diferença para os botos-de-Lahille hoje.

Pesca cooperativa
A pesca cooperativa é uma tática de forrageio especializada, característica do boto-de-Lahille. Consiste em uma interação rara de cooperação com a pesca artesanal de tarrafa.
A pesca cooperativa ocorre de forma ativa e frequente apenas no estuário de Laguna (SC) e na Barra de Tramandaí (RS), e existem registros históricos e eventuais na foz dos rios Araranguá (SC) e Mampituba (RS). Também é conhecida como “pesca com boto” ou “corrida do boto”.
Nessa interação, botos e pescadores se movimentam em sincronia para capturar tainhas (Mugil liza), de modo que ambos se beneficiam. Os botos cercam os cardumes em direção às margens, onde se posicionam os pescadores. Com sinais corporais característicos, os botos sinalizam aos tarrafeiros o melhor momento para lançarem suas redes. As tainhas são encurraladas e capturadas com maior facilidade pelos botos e pelos pescadores (garantindo maior sucesso de captura, com menor esforço de pesca!).
Interações mutualistas entre seres humanos e cetáceos são muito raras no mundo. Atualmente, isso ocorre apenas no sul do Brasil e em Mianmar, na costa da Ásia e com outra espécie de golfinho (Orcaella brevirostris).

Ameaças
Evidências indicam que o boto-de-Lahille está diminuindo ao longo da sua área de distribuição, principalmente em razão de capturas incidentais em redes de pesca e da degradação dos ambientes onde vivem.
A poluição (química, residual e sonora), o esgotamento de suas presas, o rápido crescimento urbano desordenado (como obras de infraestrutura e atividades industriais costeiras), o risco de colisões acidentais com embarcações e a falta de ordenamento costeiro, representam ameaças para o boto-de-Lahille. Cada subpopulação apresenta preocupações de conservação.
A subpopulação da Argentina se destaca por seu pequeno tamanho, com observada diminuição histórica na distribuição, aparente isolamento genético e geográfico, além da baixa diversidade genética. Por outro lado, a subpopulação do sul do Brasil-Uruguai pode diminuir cerca de 23% em uma única geração se as condições ambientais atuais e a situação de captura acidental não mudarem.
O pequeno tamanho populacional e a distribuição restrita em águas costeiras que acumulam impactos, justificam a inclusão do boto-de-Lahille em categorias de ameaça.

Status de Conservação
Atualmente, a categoria global de ameaça do boto-de-Lahille é “Vulnerável” de acordo com os critérios da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).
No Brasil, na Argentina e no Uruguai, o boto-de-Lahille é considerado como “Em Perigo”. Isso significa que, se os botos-de-Lahille não forem protegidos, é possível que em um futuro não muito distante, possam deixar de existir.
Por essa razão, iniciativas como o Projeto Gephyreus estão em curso! Com a sistematização e o compartilhamento de dados populacionais entre as áreas de estudo, é possível monitorar o estado das subpopulações e entender mais sobre o boto-de-Lahille. Essas informações buscam subsidiar estratégias e políticas públicas nacionais e internacionais de conservação.
Também são comunicadas e difundidas com as comunidades locais, mobilizando atores parceiros e contribuindo através da educação ambiental para a valorização da natureza e da cultura socioambiental.