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Workshop da IWC em Santos (SP) reforça urgência na conservação do boto-de-Lahille
Entre 30 de junho e 5 de julho de 2025, Santos (SP) foi palco de um encontro internacional organizado pelo Comitê Científico da Comissão Internacional da Baleia (IWC), em parceria com o Ministério do Meio Ambiente do Brasil e o ICMBio, para avaliar os Planos de Manejo e Conservação (CMPs) de seis espécies de cetáceos da América do Sul.

Pesquisadores de diversos países da América do Sul, Estados Unidos e Ásia estiveram presentes, incluindo a presidente do Comitê Científico da IWC, Lindsay Porter e os organizadores do workshop, Alexande Zerbini e Els Vermeulen. Entre baleias-francas, toninhas e golfinhos de rio, um dos grandes destaques foi o debate sobre o boto-de-Lahille (Tursiops gephyreus), espécie criticamente ameaçada e endêmica do Atlântico Sul Ocidental.
A situação do boto-de-Lahille foi apresentada como especialmente crítica. Dados recentes indicam que restam menos de 600 indivíduos em toda a sua distribuição, do sul do Brasil ao Uruguai e à Argentina, organizados em pequenas unidades populacionais com baixa conectividade. A captura incidental em redes de pesca continua sendo a principal ameaça, somada à degradação do habitat e à crescente preocupação com a saúde das populações.
Pesquisadores destacaram evidências recentes de um grave aumento de lesões cutâneas em alguns grupos de botos, o que pode estar associado a baixa imunidade e exposição a poluentes. Esses sinais reforçam a necessidade de integrar avaliações de saúde aos planos de manejo, já que fatores como poluição química e degradação ambiental podem comprometer a resistência imunológica da espécie e agravar os impactos da captura incidental.
Outro avanço relevante discutido em Santos foi a retomada da coleta de dados na Argentina, uma recomendação reiterada pelo Comitê Científico da IWC ao longo dos anos. Essa ação é essencial para preencher lacunas de informação sobre a espécie em toda a sua distribuição e fortalecer a conservação regional. Resultados preliminares da primeira campanha realizada na Bahía Blanca foram apresentados, incluindo estimativas iniciais de abundância.
Também foi ressaltada a importância dos estudos sociais junto às comunidades pesqueiras tradicionais, reconhecendo que apenas com diálogo, engajamento e alternativas de subsistência é possível reduzir a mortalidade acidental de botos. Iniciativas de ciência cidadã, como o monitoramento comunitário e campanhas de conscientização em áudio e vídeo, mostraram grande alcance e impacto positivo na sensibilização da sociedade.
Os coordenadores do CMP do boto-de-Lahille — Pedro Fruet (Kaosa), coordenador científico, e Leandro Aleranha (IBAMA), coordenador governamental — reforçaram que o sucesso do plano depende de um esforço conjunto entre Brasil, Uruguai e Argentina, unindo ciência, gestão pesqueira, fiscalização ambiental, monitoramento de saúde e engajamento comunitário.
O relatório final do workshop será encaminhado para a próxima reunião do Comitê Científico da IWC em 2026, onde o progresso será novamente avaliado. O encontro de Santos representou um passo crucial não apenas para alinhar estratégias de pesquisa e manejo, mas também para colocar o boto-de-Lahille no centro da agenda internacional de conservação de cetáceos.


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